S02-20
CARTOGRAFIAS DO BRASIL CONTEMPORÂNEO: Problematizações ético-estético-políticas sobre práticas ciberculturais de movimentos ultraconservadoresRESUMO
As tecnologias digitais em rede vêm reconfigurando as práticas culturais. Para alguns autores trata-se de pensar numa cultura outra, a saber: cibercultura (Lévy). Para outros e em direção não oposta sociedade do controle (Deleuze) ou sociedade das telas (Lipovetsky e Serroy). Nessa reconfiguração cultural em rede, temos presenciado uma retoma da extrema-direita e grupos ultraconservadores em escala local e global e, com ela, a emergência de movimentos e práticas de viés fascista. As práticas em questão ganharam novas interfaces, dado que são operacionalizadas por sistemas comunicacionais que possibilitam a comunicação todos-todos, diferentemente de outrora, em que o rádio, a TV e o cinema, sistemas de comunicação unidirecionais, um-todos (eram os meios utilizados, por exemplo, pela/na propaganda fascista). Em nosso contexto, no Brasil contemporâneo, governado por um representante de ultradireita, não é diferente, é possível observar que a rede se tornou um espaço para intensa produção de reinvindicações de privilégios por determinados grupos identificados muitas vezes com movimentos ultradireitistas e até mesmo fascistas. São reinvindicações que desejam um ideal normativo de sociedade, sobretudo assujeitada à branquitude, heteropatriarcado e fundamentalismo religioso (Butler; Pocahy; Akotirene). Esse desejo de norma tem nos levado a problematizar sobre a possibilidade de questionarmos desde miradas ético-estético-políticas (Foucault) a assunção dos ditos homens de bem (Demier) – representantes dessa nova ordem moral, econômica, racial, sexual e de gênero. O enfraquecimento das forças democráticas é observado na exigência de privilégios de determinados grupos e precarização/extermínio/apagamento da existência de outros, notadamente aqueles marcados como a diferença. A presente problematização toma como território de análise as políticas do desejo molares e moleculares partilhadas diariamente por esses grupos ultraconservadores e fascistas (Deleuze e Guattari), as quais têm calcificado ideias de uma moral (do bem), se assim podemos dizer. Para pensar esse novo regramento moral abrimos interlocuções a partir de experimentações cotidianas que marcam o nosso cenário, principalmente as práticas e os discursos odiosos reverberados diariamente pelas redes digitais. Para isso, nos movimentamos nas discussões dos princípios ético-políticos-estéticos da cartografia (Deleuze e Guattari) apoiados em ferramentas conceituais de discurso e de enunciado (Foucault). Como desdobramentos das análises dessa cartografia em rede, destacamos que a noção de ´homem de bem´ enunciada por esses grupos corrói as possibilidades do laço democrático, uma vez que, apostamos, quando maior o lastro da democracia popular e participativa, maior o campo de possibilidade de expansão dos fluxos e espaços de diferenciação (Pocahy) e, consequentemente, a liberdade e emergência de outras formas de existi no mundo, com o mundo. Nossas análises baseiam-se em recortes empíricos de publicações públicas nas redes sociais e, com elas, evidenciamos algo do jogo da produção de jogos de verdade, tais quais aqueles que, como anunciamos, enaltecem a figura dos ´homens de bem´.
PALAVRAS-CHAVES: Ética; Política; Democracia; Movimentos ultraconservadores; Fascismo; Cibercultura; Cartografia.
Firmantes
Nombre | Adscripcion | Procedencia |
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Felipe da Silva Ponte de Carvalho | Universidade do Estado do Rio de Janeiro | Brasil |
Fernando Altair Pocahy | Universidade do Estado do Rio de Janeiro | Brasil |